"A concepção cristã de Deus – Deus o como protetor dos doentes, o Deus que tece teias de aranha, o Deus na forma de espírito – é uma das concepções mais corruptas que jamais apareceram no mundo: provavelmente representa o nível mais ínfero da declinante evolução do tipo divino. Um Deus que se degenerou em uma contradição da vida. Em vez de ser sua própria glória e eterna afirmação! Nele declara-se guerra à vida, à natureza, à vontade de viver! Deus transforma-se na fórmula para todas calúnias contra o "aqui e agora" e para cada mentira sobre "além"! Nele o nada é divinizado e a vontade do nada se faz sagrada!...
> XIX
> O fato de as raças fortes do Norte da Europa não terem repudiado esse Deus cristão não dá qualquer crédito aos seus dotes religiosos – para não mencionar seus gostos. Deveriam ter sido capazes de sobrepujar tal moribundo e decrépito produto da décadence. Uma maldição paira sobre eles porque não o repeliram; absorveram em seus instintos a enfermidade, a senilidade e a contradição – e a partir de então não criaram mais nenhum Deus. Dois mil anos se passaram – e nem um único Deus novo! Em vez disso, ainda existe como que por algum direito intrínseco – como se fosse um ultimatum(1) e maximum(2) da força criadora de divindades, do creator spiritus(3) da humanidade –, esse deplorável Deus do monótono-teísmo cristão! Essa imagem híbrida da decadência, destilada do nada, da contradição e da imaginação estéril, na qual todos os instintos da décadence, todas as covardias e cansaços da alma encontram sua sanção! –
> 1 – Última palavra.
> 2 – Máximo.
> 3 – Espírito criador."
Anotações místico-filosóficas de um buscador sedento pela amplitude da profundidade.
terça-feira, 20 de março de 2012
"Monótono-teísmo!" (trecho de "O Anticristo" de Friedrich Wilhelm Nietzsche
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